Não importa que aniversários sejam anuais: escrevo e manifesto o que eu quiser aqui – o blog foi feito exatamente para isso – e hoje inventei de comemorar o meio primeiro aniversário do EmMissão. Quando o blog nasceu, até pelo nome, eu já sabia que ele seria uma trincheirinha comunicativa. Era para ser anônimo, nenhum conhecido saberia de sua existência (parece sedutora a magia da descoberta aleatória de buscas no google, os visitantes chegando sem maiores vieses...). Mas irromperam as "jornadas de junho" e o compartilhamento de registros e impressões foi inevitável. Até porque, percebendo que nenhum discurso é neutro e que não adianta insistir em busca de consensos, toda comunicação envolve uma luta e a missão deste blog é de resistência face às podres visões hegemônicas de mundo.
Pois é, discurso é jogo de luta. O sujeito se constitui no interior
mesmo da história e é a cada instante fundado e refundado pela história. Ou
seja, a constituição histórica de um sujeito de conhecimento se dá através de um discurso tomado como um conjunto de estratégias que fazem parte das
práticas sociais. Foucault (A Verdade e as Formas Jurídicas) diz que há dois tipos de verdade. O primeiro, a verdade interna,
sendo aquela produzida pela ciência. O segundo, a verdade externa,
tratando-se justamente das regras de jogo a partir das quais se moldam formas
de subjetividade, domínios de objeto e certos tipos de saber. E, com base no pensamento de Nietzsche, o
conhecimento não é delineado de antemão pela natureza humana, mas é
resultado de uma luta; o risco e o acaso é que lhe dão lugar.
Em outras palavras, a crença na existência de uma natureza ou de
condições universais do conhecimento é uma falácia. O conhecimento é o
resultado histórico e pontual de condições, possuindo um caráter perspectivo.
As condições políticas e econômicas de existência não são obstáculo para o
sujeito de conhecimento, mas aquilo através do que ele se forma e, por
conseguinte, se formam as relações de verdade.
E como as pessoas obtêm conhecimento e formam opinião? Através da comunicação. Nas sociedades contemporâneas, a mídia transmite valores como se fossem
universais, sob uma suposta presunção de imparcialidade. Cabe a quem identificá-lo desconstruir esse discurso, de modo a representar a
verdade de forma ativa, e não passiva-hipnotizada-que segue o fluxo da corrente ideológica hegemônica (da hegemonia à totalidade, isto é, ao totalitarismo, é um piscar de olhos).
Assim, apesar dos propósitos bem intencionados do EmMissão, da missão de emitir contrapontos, a cabeça desta blogueira Elle (trocadilho com a inicial de meu verdadeiro nome, a letra "L") vive povoada por fantasmas – obsessores, por vezes – na montanha russa emocional da vida. Então celebro que o blog é também um ombro amigo e companheiro de madrugadas, ou uma espécie de mar sempre disposto a receber meus sentimentos transbordados em palavras. Nunca vou me esquecer da frase de Wright Mills: "escrever é, entre outras coisas, sempre uma maneira de compreender a nós mesmos".
Também comemoro o aniversário 0,5 porque volta e meia encontro pessoas insuspeitas, que jamais imaginei que me lessem, inusitadamente elogiando o blog e querendo discutir sobre postagens. Aí vejo que, com toda a sua simplicidade e humildade, o blog realmente consegue tocar corações e mentes de vez em quando, confirmando sua pretensa vocação político-informativa de incomodar acompanhada de alguma sensibilidade peculiar. Tem, também, os comentários empolgantes e as críticas das pessoas mais chegadas, o que leva a crer que valeu a pena sair do total anonimato inicialmente pretendido.
Enfim, pela experiência, pela necessidade, por mim, por quem quiser, pela alegria de encontros e argumentos, pela interação, com afeto e com açúcar, parabéns e um abraço a quem tem feito parte deste terreninho cibernético de livre pensar e sentir.
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