sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Sobre direito x abuso de direito

Bruxelas (Bélgica) acaba de estabelecer que impropérios, denominados “insultos verbais na rua”, renderão multa que variará de 75 a 250 euros. Poderão ser aplicadas por policias quando o agressor for flagrado cometendo o insulto, ou após investigação policial mediante denúncia da vítima ou testemunha. A medida, tão importante para o combate à violência contra a mulher, foi tomada só depois que uma estudante de cinema, Sofie Peeters, gravou um documentário intitulado “Femme de la Rue” (A mulher da rua). Durante meses, ela filmou com uma câmera caseira os insultos que ouvia de homens na rua. O que se vê e ouve é chocante, mas muitíssimo familiar a milhares de mulheres.
A medida, que certamente não é suficiente por si só, é uma boa forma de começar a combater esse absurdo. Além do ato em si, que ofende e machuca, o que mais preocupa é a tolerância das pessoas. Ainda é natural, para muitas pessoas, presenciar comentários de estranhos sobre a aparência de uma mulher ou, pior, palavras em que o agressor afirma o que gostaria de fazer com ela se tivesse oportunidade. Até quando?
Obviamente que apenas a repressão não basta. É necessário educar. Mostrar o quanto isso humilha a dignidade tanto de quem ofende quanto de quem é ofendido. Que isso não é normal. Que abre precedentes para atitudes mais violentas, como uma “passada de mão” ou o sexo forçado em si. Mas é importante que este tipo de atitude tenha punição. Para que se saiba que a vítima pode denunciar, e que o agressor terá de pagar, literalmente, pela sua falta de educação, sensibilidade e respeito.
Pegando esse gancho, é preciso que se compreenda que também os olhares desrespeitosos não podem ser tolerados. Muita gente resiste a essa ideia ante o argumento de que qualquer um tem direito de olhar para quem quiser. Sim. Existe esse direito, assim como o direito de falar para quem se quer. O problema é o abuso desses direitos. Uma coisa é olhar; outra, é olhar com desrespeito — muitas vezes correspondendo a um insulto verbal. É humilhante e fere igualmente a dignidade de uma mulher que está apenas transitando em via pública, seja de burca, biquíni ou usando qualquer outra vestimenta. Entender a diferença entre direito e abuso de direito é fundamental em matéria de respeito.
*adaptado do blog Mulherio, do Gazeta do Povo.



Um comentário:

  1. Documentário incrível tanto quanto a moça que o fez.

    Apesar dos pesares, coisas ruins também evocam coisas boas.

    Bem, essa pesquisa eh tambem uma idéia genial:

    Chega de fiu-fiu
    http://thinkolga.com/2013/09/09/chega-de-fiu-fiu-resultado-da-pesquisa/

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