Não existe apenas um feminismo; são vários. Mesmo
assim, é possível usar o singular para fazer referência a um fenômeno que diz
respeito a todas as correntes do feminismo, como o impacto provocado pela
internet. De fato, o movimento feminista (assim mesmo, no singular) tem sido
descoberto cada vez mais pelas novas gerações e entendido pelas mais velhas,
superando os estigmas que o cercavam – e, infelizmente, ainda o cercam.
O
efeito profundamente libertário que o feminismo proporciona o insere nas lutas
fundamentais da esquerda progressista. Aliás, o capitalismo só cresceu e ainda
se reproduz às custas de muito machismo, na cultura da mulher que oscila entre
consumidora e mercadoria, e do engravatadinho que idealiza o tripé de
bens dinheiro, poder e mulher. Ser
feminista e não ser progressista (raro) é, portanto, uma aberração. Mas ser progressista e não ser
feminista (comum) é também uma aberração.
No
Brasil, o movimento de blogueiros progressistas é forte, mas, lamentavelmente,
as blogueiras feministas ainda não são
identificadas como integrantes desse grupo. O mais importante evento destinado
a reunir a categoria de blogueiros progressistas (o Encontro Nacional de
Blogueiros Progressistas - BlogProg), por exemplo, não conta com blogueiras
feministas na programação. É que mesmo a esquerda tem dificuldades de se
descontaminar das velhas forças do patriarcado. A esmagadora maioria dos que se
reconhecem como blogueiros progressistas é de homens. Coincidência?
Definitivamente, não.
Enquanto
isso, à margem do reconhecimento da grande revolução que vem empreendendo, o
feminismo vai além dos meios brancos e diplomados da crítica. Ele se
populariza, ganha guetos, está na letra de raps
e, mais do que nunca, junto às minorias, especialmente às causas negra e LGBT.
Como
mostra o artigo abaixo, publicado na BBC Brasil:
Descobrindo o feminismo em geração que
cresceu com Xou da Xuxa
Yara
Rodrigues Fowler
estudante,
Universidade de Oxford
14.02.2014
Nesses
meus quase quatro anos na Universidade de Oxford, assisti e participei do que
vem sendo chamado de repopularização do feminismo.
Temos
discussões e eventos quase diariamente, revistas, blogs e até DJs feministas.
Esse movimento, no entanto, foi criticado recentemente - e a crítica tinha
razão - por ser exclusivo demais.
Ele
não representava a experiência das mulheres que não faziam parte da elite
branca, heterossexual e de classe média, o que acabava reproduzindo o sistema
que oprime quem está fora desse clube.
A
internet amplificou as vozes críticas. As tags #solidarityisforwhitewomen
("solidariedade é só para mulheres brancas"), e
#lifeofamuslimfeminist ("vida de uma feminista muçulmana") se
espalharam pelo Twitter.
A
crítica já começa a surtir efeito. Em janeiro, foram fundados os primeiros
grupos feministas para mulheres negras estudando em Oxford, por exemplo.
Para
entender essa tendência no Brasil, eu entrevistei Zaíra Pires, cofundadora do
site Clique Blogueiras Negras.
No
site, experiências e opiniões diversas mostram que a vertente mais democrática
do feminismo também está viva no Brasil.
Quem
entrar ali encontrará depoimentos emocionantes, como o de Dulci Lima sobre o
papel que sua mãe teve em sua consciência racial e como foi crescer como uma
menina negra durante o apogeu do Xou da Xuxa.
Ou o
Clique interessante texto de Charô Nunes intitulado "Deixar de ser
racista, meu amor, não é comer uma mulata", com cinco elogios racistas que
mulheres negras frequentemente ouvem.
E,
mais especificamente sobre o tema deste blog, o texto de Márcia Vasconcelos
sobre o que poderia ser chamado de racismo do feminismo tradicional.
Zaíra
me explicou que o feminismo no Brasil também está mudando substancialmente.
Atinge "mais pessoas, mais mulheres, se torna mais palatável, mais
divertido e muito mais efetivo, uma vez que muito mais mulheres e homens têm a
oportunidade de conhecer suas teorias".
Zaíra
credita as mudanças em parte ao poder da internet. "Blogs e redes sociais
são plataformas poderosas", disse. Aprendi muito com o site Blogueiras
Negras nesta viagem ao Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário