segunda-feira, 3 de março de 2014

Blogueiras feministas

Não existe apenas um feminismo; são vários. Mesmo assim, é possível usar o singular para fazer referência a um fenômeno que diz respeito a todas as correntes do feminismo, como o impacto provocado pela internet. De fato, o movimento feminista (assim mesmo, no singular) tem sido descoberto cada vez mais pelas novas gerações e entendido pelas mais velhas, superando os estigmas que o cercavam – e, infelizmente, ainda o cercam.

O efeito profundamente libertário que o feminismo proporciona o insere nas lutas fundamentais da esquerda progressista. Aliás, o capitalismo só cresceu e ainda se reproduz às custas de muito machismo, na cultura da mulher que oscila entre consumidora e mercadoria, e do engravatadinho que idealiza o tripé de bens dinheiro, poder e mulher. Ser feminista e não ser progressista (raro) é, portanto,  uma aberração. Mas ser progressista e não ser feminista (comum) é também uma aberração.

No Brasil, o movimento de blogueiros progressistas é forte, mas, lamentavelmente, as blogueiras feministas  ainda não são identificadas como integrantes desse grupo. O mais importante evento destinado a reunir a categoria de blogueiros progressistas (o Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas - BlogProg), por exemplo, não conta com blogueiras feministas na programação. É que mesmo a esquerda tem dificuldades de se descontaminar das velhas forças do patriarcado. A esmagadora maioria dos que se reconhecem como blogueiros progressistas é de homens. Coincidência? Definitivamente, não.

Enquanto isso, à margem do reconhecimento da grande revolução que vem empreendendo, o feminismo vai além dos meios brancos e diplomados da crítica. Ele se populariza, ganha guetos, está na letra de raps e, mais do que nunca, junto às minorias, especialmente às causas negra e LGBT.

Como mostra o artigo abaixo, publicado na BBC Brasil:

Descobrindo o feminismo em geração que cresceu com Xou da Xuxa

Yara Rodrigues Fowler
estudante, Universidade de Oxford

14.02.2014

Nesses meus quase quatro anos na Universidade de Oxford, assisti e participei do que vem sendo chamado de repopularização do feminismo.
Temos discussões e eventos quase diariamente, revistas, blogs e até DJs feministas. Esse movimento, no entanto, foi criticado recentemente - e a crítica tinha razão - por ser exclusivo demais.
Ele não representava a experiência das mulheres que não faziam parte da elite branca, heterossexual e de classe média, o que acabava reproduzindo o sistema que oprime quem está fora desse clube.
A internet amplificou as vozes críticas. As tags #solidarityisforwhitewomen ("solidariedade é só para mulheres brancas"), e #lifeofamuslimfeminist ("vida de uma feminista muçulmana") se espalharam pelo Twitter.
A crítica já começa a surtir efeito. Em janeiro, foram fundados os primeiros grupos feministas para mulheres negras estudando em Oxford, por exemplo.
Para entender essa tendência no Brasil, eu entrevistei Zaíra Pires, cofundadora do site Clique Blogueiras Negras.
No site, experiências e opiniões diversas mostram que a vertente mais democrática do feminismo também está viva no Brasil.
Quem entrar ali encontrará depoimentos emocionantes, como o de Dulci Lima sobre o papel que sua mãe teve em sua consciência racial e como foi crescer como uma menina negra durante o apogeu do Xou da Xuxa.
Ou o Clique interessante texto de Charô Nunes intitulado "Deixar de ser racista, meu amor, não é comer uma mulata", com cinco elogios racistas que mulheres negras frequentemente ouvem.
E, mais especificamente sobre o tema deste blog, o texto de Márcia Vasconcelos sobre o que poderia ser chamado de racismo do feminismo tradicional.
Zaíra me explicou que o feminismo no Brasil também está mudando substancialmente. Atinge "mais pessoas, mais mulheres, se torna mais palatável, mais divertido e muito mais efetivo, uma vez que muito mais mulheres e homens têm a oportunidade de conhecer suas teorias".

Zaíra credita as mudanças em parte ao poder da internet. "Blogs e redes sociais são plataformas poderosas", disse. Aprendi muito com o site Blogueiras Negras nesta viagem ao Brasil.

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