sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Na microfísica

Era uma ágora. Na frente, ficavam sempre os mesmos, todos homens velhos e brancos, que assoberbadamente sentavam, falavam e riam do mesmo jeito, como em domínio de linguagem própria dos que compartilham determinada posição de poder. O desleixo que aqueles corpos permissivamente gordos expressavam em sinal de afirmação de livre arbítrio era o molde que lhes conferia identidade, status, ordem reconhecível e estável conservada. A deselegância e a aspereza lhes agregavam valor veladamente. Não precisavam observar outros códigos que não esse, que eles mesmos criaram em ágoras de outros tempos. Babando em suas gravatas e arrotando egocentrismos, eram, ao mesmo tempo, personagens e público principais do espetáculo.
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"Nada mudará a sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo e ao lado dos aparelhos de Estado a um nível muito mais elementar, cotidiano, não forem modificados." (Foucault - A Microfísica do Poder).
 
  
 
 

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