domingo, 29 de dezembro de 2013

O Pasquim da democracia

Na época da ditadura militar brasileira, o papel da imprensa alternativa foi crucial para a manutenção e o fortalecimento de algum pensamento político de contraponto à criminosa propagação do discurso dominante – antidemocrático, de direita e conservador. Nesse sentido, o veículo de maior destaque foi O Pasquim, tabloide fundado em 1969.

Mais de quarenta anos depois, as forças antidemocráticas continuam a operar com todo o vigor, embora, talvez, mais dissimuladamente. Aparentemente, não mais se ousa pensar a sério um novo golpe militar, mas o ar de golpismo que suscita a grande mídia é quase sufocante.

Com a eleição do presidente Lula, em 2002, os cinco proprietários que controlam quase toda a mídia do país formam um sólido bloco de oposição bem articulado e incisivo, arregimentando todos os canais de comunicação possíveis: rádios, jornais, revistas, internet e, o mais impactante, a televisão. Essa mídia mainstream passa a emitir mais intensamente seu coro uníssono, até em tom de desespero, como um aparelho ideológico que apela às mais absurdas mentiras ardilosamente transmitidas a um público já conservador e ignorante, que é a classe média brasileira, enquanto o governo se amedronta diante desse poder que estigmatiza e assassina reputações despudoradamente e em questão de minutos.

Por outro lado, na luta da produção de verdades, que reflete um embate entre valores e visões sobre como a História deve caminhar, a mídia alternativa encontra na internet campo fértil de realização. Por isso, se hoje tanto se celebra a existência de O Pasquim nos anos de chumbo, não se pode fechar os olhos para o valor equivalente que a resistente e combativa nova mídia alternativa possui exatamente agora, quando a democracia é uma frágil realidade, constantemente ameaçada e ainda longe de estar totalmente concretizada [1].

Diante de uma enorme distorção do sentido de jornalismo, da confusão entre liberdade de imprensa e liberdade de empresa e das evidentes (más) intenções da grande mídia nativa, uma série de blogueiros e ativistas surgiram no país e estão desempenhando um belíssimo ofício de liberdade de expressão e, acima de tudo, de democracia. O testemunho desse bonito processo histórico de fortalecimento da mídia alternativa no Brasil contemporâneo deve se dar com o maior orgulho e reconhecimento, não obstante o óbvio silêncio dos grandes grupos de comunicação. 

O novo O Pasquim, a mídia alternativa salutar à democracia brasileira, conta com nomes como Miguel do Rosário (O Cafezinho), Fernando Brito (Tijolaço), Luiz Carlos Azenha (Viomundo), Rodrigo Vianna (Escrevinhador), Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada), Luis Nassif, Altamiro Borges e muitos outros. É criado o valioso grupo Mídia Ninja e aparecem organizações como o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé. 

O movimento da mídia alternativa também cresce nas redes sociais. No Facebook, páginas de esquerda são frequentemente perseguidas e censuradas após lograrem viralizar mensagens que demonstram as farsas montadas pela oposição, com todo o apoio da grande mídia, para proteger os seus e macular a imagem do governo do Partido dos Trabalhadores. 

O ano de 2013, com as jornadas de junho, marca exatamente a importância central do conflito entre os jornalões e a mídia alternativa com a esquizofrenia social que se fez patente: ao mesmo tempo em que as massas continuam incorporando o discurso da velha mídia, esta se revelou alvo de um repúdio generalizado. 

Para o ano que vem – que promete ser difícil, com Copa do Mundo e eleições presidenciais – o desafio é levar às ruas, em grande escala, a pressão pelo Projeto de Lei de Iniciativa Popular da mídia democrática. Olhando para os megaconglomerados de comunicação que manipulam a informação contra esse projeto, sim, nossa campanha parece bem difícil. Mas é certo que estamos trabalhando e vamos avançar!

Então – como o que não nos mata, nos fortalece –, que venha 2014 e viva a democracia!

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[1] Não custa lembrar que, durante os protestos que mobilizaram o país este ano, a embaixadora dos Estados Unidos no Paraguai na ocasião do golpe contra o governo Lugo foi imediatamente transferida para cá. Além do Tio Sam, também os militares se manifestaram dizendo que "estavam atentos"; sem falar na cada vez mais eloquente postura do Judiciário, ao que tudo indica movido pelos mesmos poderes obscuros que animam a imprensa, especialmente as organizações Globo.

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