quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Atualizando O Capital

Posso dizer que existe uma obra literária que mudou cabalmente a minha vida: O Capital, de Karl Marx. Há muitos aspectos que dizem respeito a uma crítica dos desdobramentos que essa obra fundamental produziu no mundo, é óbvio. Mas o mais importante é que sempre se reconheça e se destaque que se trata de um clássico da literatura política e, portanto, por definição, de um texto atual. Se quisermos entender o mundo em que vivemos, ainda "capitalistíssimo", não dá para ignorar Marx.
 
Acontece que algumas coisas mudaram do final do século XIX para cá. O capitalismo se desenvolveu até que chegamos aqui, na sociedade de informação, em que o valor é acrescido pelo conhecimento, correspondendo a um tipo de trabalho diferente do que o que  Smith, Ricardo, Say, Sismondi e todos os demais “pais fundadores” da ciência econômica tinham em mente sobre o valor-trabalho. Então, claro, esse desconto teórico também vale para Marx. Somente desde a segunda metade dos anos 1990 parece ficar teoricamente mais clara a nova fase do capitalismo em que entramos, o capitalismo cognitivo, em que o trabalho imaterial e tudo aquilo que está ligado à inovação se encontram no cerne de um padrão de acumulação no qual os processos reprodutivos se tornam imediatamente produtivos, emancipando-se da ordem (fabril) do trabalho assalariado. Por outro lado, a financeirização da economia complementa esse deslocamento: a venda de produtos com valores agregados de maneira cada vez mais forjada pelo trabalho imaterial é oferecida na base de juros e muito dinheiro virtual, sem base real. Daí a crise econômica mundial que experimentamos, sem previsão de acabar.

Nessa nova fase, não dá para negar a contradição ainda mais forte entre trabalho e capital quando observamos a dificuldade de manutenção de um padrão de controle monopolizado da produção, que, agora, se dá muito mais em rede – daí a dificuldade em se manter um sistema pautado em propriedade, sobretudo a intelectual. Com a internet, estabelece-se um novo paradigma com franca tendência ao compartilhamento livre de informação, justamente o ativo mais valioso e estratégico que movimenta o mundo. Mas... livre compartilhamento do que há de mais valioso? Aonde vamos com isso? Bom, com direito a memes, fica a deixa para uma reflexão.



 

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