sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Era (sou) eu

Fitou a imagem. Não se lembrava de nada. Espelho, foto, foto, espelho. Retrato ou reflexo, não é sempre uma alteridade?

1987
Então furaram as orelhas, vestiram de rosa, disseram "fecha as pernas!", "anda que nem mocinha!" e um excesso de nãos. Deram bebês de plástico e panelinhas, mostraram exemplares princesas passivamente arrumadas à espera de um príncipe quase messiânico, venerável, garantidor de felicidade para sempre. Seja santa, seja meiga, seja mansa, delicada, burra e padronizadamente sexy. Tenha muito medo de não ser assim, te chamarão de puta. Ai, que horror! Procure ser boazinha, acostumando-se com a eterna maldição. Conforme-se com sua condição e seu lugar social de fundo. Você é a representação do diferente, do outro, não queira se igualar. Seu prazer é outro, seu modo de ser é outro.

É sempre uma alteridade.

8 comentários:

  1. Voce é forte mesmo, sobreviveu a tudo isso.Que bom!

    Eu tive sorte!
    Papai mega feminista, furei minha orelha na casa de um amigo aos 15 anos.
    Me "criei na rua" por opção, eu tinha uma, eu tinha várias.
    Desde pequena, provavelmente a frase que mais escutei na minha vida, foi de papai: "voce tem seu livre arbítrio".

    Toda experiencia vale a pena, sendo tolhida ou não, sabemos quem somos, basta ser.

    "Quem pensa por si mesmo é livre
    E ser livre é coisa muito séria
    Não se pode fechar os olhos
    Não se pode olhar pra trás
    Sem se aprender alguma coisa pro futuro"

    L'Aventura - Renato Russo

    Feliz dia 12 x 365

    :*

    lanusca

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    1. E vc não sobreviveu? A sociedade tá aí, a cultura e o alter ego existem... somos todas fortes! Tive muita sorte também ;)

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    2. Digo, superego. Falei tanto de "alter", rs...

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  2. claro mocinha!

    todo dia é dia de luta e sobrevivência, vou sangrando até o fim, sem medo e a menor pena de ninguém.

    Under deconstruction

    um brinde a nós :*

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  3. Se tentarmos um olhar empático, talvez possamos entender que o que recebemos de nossos pais foi o que de, de fato, eles tinham para oferecer !
    O que ficou faltando ou o que recebemos e não nos serviu, cabe a nós, "sobreviventes"e agora adultos, trabalharmos para dar conta de aprender a conviver, da melhor forma possível, com essa carência.
    Um dia, o ciclo talvez recomece, e seja a hora de sermos pais e acharmos que faremos melhor e diferente...esquecendo que somos todos únicos, completa e perfeitamente humanos e que talvez o que entendemos que seja perfeito para nosso filho, seja apenas o que teria sido perfeito para nós mesmos !

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  4. Opa, acho que surgiu um problema de interpretação aqui: a ideia da frase "é sempre uma alteridade" é justamente a de não apontar identidades (como, por exemplo, meus pais). Como consequencia, o texto não responsabiliza ou vitimiza ninguém especificamente, apenas brinca com a noção de eu e outro em tom de crítica social.

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  5. Que bebê lindo! E usava azul! :))

    Beijos, lindona!

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