quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Democracia e utopia

Utopia é algo que parece inalcançável no momento atual, mas que um dia – acredita-se –, pode vir a acontecer. A democracia, por exemplo, é uma grande utopia.  A maioria dos países do mundo concordou que ela é o melhor sistema de governo desde a segunda metade do século XX. A partir daí, multiplicaram-se constituições anunciando a existência de democracias nos quatro cantos do mundo, como se tal formalidade conferisse automaticamente essa qualidade aos respectivos estados. É evidente que um adequado arcabouço institucional, com o princípio do devido processo legal em sua espinha dorsal, é uma garantia imprescindível ao funcionamento de uma democracia, mas isso sinaliza apenas um começo de transformação da utopia em realidade. É que, ao contrário do que quer a opinião dominante (shumpeteriana), nem só de formalidades uma democracia acontece.
 
Na verdade, a fachada institucional de democracia dá legitimidade para que a ditadura continue firme e forte, ainda que operando "por baixo dos panos". Daí o esforço (bem sucedido) dos grandes conglomerados da imprensa mundial em fazer com que o senso comum acredite, por exemplo, que os Estados Unidos são um país muito democrático. O sentido moral de democracia, a democracia como governo do povo, e não como domínio de privilegiados, está longe da realidade naquele país e em tantos outros.

A verdadeira democracia, portanto, vai muito além da votação de tempos em tempos para a escolha de representantes pelos representados. Ela começa em cada indivíduo, no cotidiano, cada um fazendo de sua própria vida um conjunto de práticas e pensamentos democráticos. É possível, embora utópico. É uma luta por subjetividades, não simplesmente por procedimentos – estes apenas devem refletir valores cultivados pela sociedade. O socialismo é só um desdobramento natural disso (claro, não me refiro aqui às distorções do significado de socialismo que os acontecimentos históricos produziram).

Em que pese o esvaziamento ou a troca de sentido que os vocábulos democracia e ditadura sofrem, o que importa é enxergar nossas verdadeiras amarras para que possamos desatá-las e, enfim, nos libertarmos.
  

O grande ditador (Chaplin) – 1940 

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