terça-feira, 13 de agosto de 2013

PSol e o recalque político

Na arte de conciliar interesses que é a política, o estudo da psicologia deveria ser levado mais em conta a qualquer um que queira compreender o comportamento dos players em cena, sem traduzir uma inclinação ao behaviorismo. Costumo dizer que os mundos da política e do sexo têm isto em comum: ambos são âmbitos onde as principais questões de uma pessoa se revelam. É preciso ter a perspicácia de identificá-las e jogar com elas, ter o famoso jogo de cintura e contorná-las -- do contrário, a "surtação" humana acaba te levando para longe do caminho do equilíbrio. O filósofo Slavoj Zizek, por exemplo, traz o ingrediente da psicologia em suas análises. No entanto, a disciplina se mantém geralmente afastada do repertório acadêmico de estudos políticos -- talvez justamente em razão do "trauma" que o paradigma comportamentalista deixou na ciência política.
 
Acontece que a política é feita por gente, e cabeça de gente é doente. Uns mais, outros menos, mas todo mundo tem suas neuroses. Enquanto não nos assumirmos doentes nesse sentido, o amadurecimento coletivo que a vida requer de nós parece tarefa impossível. Os pensadores clássicos já identificavam essa problemática, mas a colocavam em termos como "a razão é escrava das paixões" (Hume). Ora, o que são paixões? São justamente sentimentos aos quais nos apegamos a ponto de prejudicar um equilíbrio entre razão e emoção em nossas vidas. Mas, recobrar a sensatez -- ou pensar com o coração de maneira justa -- não é nada fácil e, muitas vezes, a tarefa esbarrará em mais sentimentos que se armam em muralhas: o orgulho, o revanchismo, a inveja, o recalque. Pobres de nós.
 
Do Dicionário Informal, recalcada é a pessoa que se sente ameaçada ou insegura e critica os supostos responsáveis por coisas erradas na visão dela. Uma pessoa recalcada tira conclusões equivocadas, baseadas em suposições quando sente uma ameaça contra si e seus valores. O recalque é uma defesa da personalidade, pessoas se recalcam porque se sentem ameaçadas.
 
No plano político-partidário brasileiro, também é possível identificar claramente várias expressões do recalque, entra elas o Partido Socialismo e Liberdade - Psol, legenda criada por gente que foi do PT, mas não suportou ver seus dogmas enfraquecidos diante do jogo do poder. Agora vejamos se tem cabimento.
 
Nada contra alianças políticas, fazem parte do jogo, mas o Psol se diz higiênico demais para fazer aliança com partidos como o PT e o PCdoB, porém, embora de maneira dissimulada, sempre vota junto com o PSDB e o DEM, muito mais do que vota com o PT nas sessões do Congresso Nacional. A aliança com a direita também se realizou nas eleições passadas, em que o Psol fechou com o PPS em Macapá. A “coligação com o PSDB não está contemplada, porém o diálogo com todas as expressões da política é democrático e faz parte da conduta civilizada”, chegou a declarar o senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP). Para tentar chegar ao segundo turno, Marcelo Freixo disputou a o apoio do deputado federal Fernando Gabeira (PV), que concorreu à prefeitura do Rio com apoio do DEM e do PSDB.
 
Freixo (Psol-RJ) também tentou convencer Marina Silva (ex-PV) a gravar um vídeo de apoio a sua candidatura. Nas eleições presidenciais passadas, a candidatura de Marina Silva foi um recurso do PSDB para jogar as eleições para os segundo turno, evitando a derrota acachapante no primeiro turno das eleições. Ao mesmo tempo que apoia Freixo no Rio, Marina Silva apoia Soninha, do PPS, uma sublegenda do PSDB, à prefeitura de São Paulo.
 
Para tentar chegar ao segundo turno, no entanto, Freixo aceitou o apoio da vereadora Andrea Gouvêa Vieira, que era uma das preferidas dentro do PSDB para a disputa a prefeitura do Rio, mas que perdeu na disputa interna no partido. Andrea Gouvêa pediu licença à direção regional do PSDB para não apoiar o candidato do seu partido e apoiar Freixo nas eleições. Freixo possui também um programa direitista para o governo do Rio, por isso conta com o apoio da direita e da burguesia. Em seu programa consta a ampliação das chamadas “Unidades de Polícia Pacificadora” (UPPs), que tanto ataca como sendo um instrumento estatal repressivo nas favelas. Quando questionado também sobre como tratará as greves se for eleito, Freixo fez questão de falar que irá tratar as greves com “pulso firme” e que até mesmo defende o corte do ponto dos grevistas, como fez recentemente a presidente Dilma Rousseff com os servidores federais em greve, “dependendo da situação”.
 
O Psol, tão ferrenho contra o PT, não enfrenta a mídia tucana, não quer se indispor com ela de jeito nenhum. Sempre no marketing de jogar para a plateia, só quer agradar a opinião pública, sobretudo a classe média "esquerda de boutique", gente que jamais se assumiria de direita, que posa de intelectual, mas não consegue superar sua perspectiva de classe bem marcada. 
 
E agora, na mesma cara de pau de sempre, cujo verniz de correção só cola com os mais ingênuos, o Psol votou contra a instalação da CPI dos Transportes em São Paulo, mas a favor no Rio de Janeiro. Por que? Me parece óbvio: em Sampa, o governador é tucano; no Rio, é do PMDB, que está na base do governo federal ao qual o Psol faz birrenta e recalcada oposição. Vale tudo para atingir o PT.
 
Vai um divã coletivo aí?

Nenhum comentário:

Postar um comentário