sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Mentes simples confundem sinceridade com grosseria

Tenho uma amiga assim: a cada cinco palavras que emite, três são palavrões. Ela fala super alto, ri das piadas mais chulas e preconceituosas, come feito um bicho e larga os talheres de qualquer jeito sobre o prato, me deixa no vácuo direto, não cumprimenta as pessoas direito e, por várias vezes, é incapaz de fazer uma cortesia alegando "não é problema meu". Chama as próprias amigas de mongóis, débeis, idiotas ou imbecis (tipo: "não é assim, sua imbecil!") – mas ai de quem dá o mesmo tratamento a ela, que se acha um doce de menina. Fazer o que? Não se pode exigir bons modos de ninguém, muito menos de quem não teve muito contato com uma maneira mais gentil de viver.

Em matéria de respeito ao próximo, ser educado é o básico. O problema é que tem gente que sequer sabe o que é ser educada, confunde conceitos em sua salada emocional interior e, perdida, acaba cultivando sentimentalismo ao invés de amor. O mundo do sentimentalismo é o mundo da enganação. O mundo do amor é o da verdade (cada um com a sua, que seja). O sentimentalismo é a interpretação vulgar do amor.

É muito difícil transmitir essa ideia porque seria necessário explicar o que é o amor para poder diferenciá-lo do corriqueiro sentimentalismo. Mas o amor não se explica, só se sente. Mesmo assim, talvez seja possível demonstrar a distinção com o exemplo da má educação, ou melhor, do que é interpretado como tal sem sê-lo. Foi uma zapeada na televisão que me deu o estalo:  "mentes simples confundem sinceridade com grosseria", disse a personagem do seriado americano aleatório. É isto: a frequente confusão entre sinceridade e grosseria nada mais é do que uma distorção sentimentalista.

Quando uma pessoa é transparente, é digna de confiança. Sendo sincera, suas opiniões são sempre levadas a sério. Para mim, isso é agir de boa-fé, com lealdade e respeito nas relações interpessoais. É manifestação do sentimento amor. Há inúmeras maneiras de ser sincero, a primeira delas é sendo consigo mesmo. Em contrapartida, a primeira reação de quem não é sincero é reprovar a sinceridade alheia que lhe desagrade. A segunda imediata é julgá-la como grosseria.

Tem aquela frase: "quem é de verdade sabe quem é de verdade". Ora, se alguém se expressa com verdade, de coração, ainda que doa, isso não é mal visto por quem é de verdade também. Mas se o mundo fosse feito só por gente "de verdade", a comunicação seria bem mais simples e dinâmica, sem os desgastantes rodeios que somos obrigados a fazer por causa do sentimentalismo.

O filho pequeno faz algo errado. Os pais acham graça e não educam: sentimentalismo.
Uma atitude sincera, embora dolorosa: amor.

Dá pra divagar muito mais no assunto, mas só queria dizer que seria interessante se todo mundo procurasse mais realizar importantes distinções conceituais, como amor e sentimentalismo, sinceridade e grosseria. E trabalhar bem esses conceitos. Por fim, encerro esta reflexão citando (quem diria!) Luiz Felipe Pondé (pois é, acontece): "formar alguém é dar a esta pessoa as ferramentas necessárias para ela compreender melhor o mundo em que vive e poder, no mínimo, sofrer nomeando as razões de seu sofrimento. Segundo a bíblia hebraica, nomear as coisas do mundo é um mandamento divino que faz de nós humanos."

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