sábado, 10 de agosto de 2013

Retrô feminista

A Igreja católica foi implacável com qualquer mulher que desafiasse os princípios por ela pregados como dogmas insofismáveis. Porém, a chamada primeira onda do feminismo aconteceu a partir das últimas décadas do século XIX, quando as mulheres, primeiro na Inglaterra, se organizaram para lutar por seus direitos, dos quais o primeiro a se popularizar foi o direito ao voto. As sufragetes – como ficaram conhecidas – promoveram grandes manifestações em Londres, foram presas várias vezes, fizeram greves de fome. Em 1913, na famosa corrida de cavalo Derby, a feminista Emily Davison atirou-se à frente do cavalo do rei, morrendo. O direito ao voto foi conquistado no Reino Unido em 1918.

No Brasil, a primeira onda do feminismo também se manifestou mais publicamente por meio da luta pelo voto. As sufragetes brasileiras foram lideradas por Bertha Lutz, uma bióloga e cientista importante, que estudou no exterior e retornou ao Brasil na década de 1910, iniciando a luta pelo voto. Esse direito foi conquistado, entretanto, somente em 1932, quando foi promulgado o Novo Código Eleitoral brasileiro.

Esse feminismo inicial, tanto na Europa e nos Estados Unidos como no Brasil, perdeu força a partir da década de 1930 e só apareceu novamente, com importância, na década de 1960. No decorrer desses trinta anos, um livro marcou as mulheres e foi fundamental para a nova onda do feminismo: O segundo sexo, de Simone de Beauvoir, publicado pela primeira vez em 1949.

Betty Friedan lançava, em 1963, o livro que seria uma espécie de bíblia do novo feminismo: A mística feminina. Durante a década, na Europa e nos Estados Unidos, o movimento feminista surge com toda força; as mulheres, pela primeira vez, falam diretamente da questão das relações de poder entre homens e mulheres. Aponta, e isto é o que há de mais original no movimento, que existe uma outra forma de dominação além da clássica dominação de classe, a dominação do homem sobre a mulher, e que uma não pode ser representada pela outra. Cada uma tem suas características próprias.

Enquanto o mundo desenvolvido fazia sua revolução sexual, o Brasil enfrentava anos de chumbo. Com a redemocratização dos anos 1980, o feminismo brasileiro entra em uma fase de grande efervescência na luta pelos direitos das mulheres. Uma das mais significativas vitórias foi a criação do Conselho Nacional da Condição da Mulher (CNDM), em 1984. Do esforço resultou a Constituição de 1988, uma das que mais garante direitos para a mulher no mundo todo. O CNDM perdeu completamente a importância com governos Collor e Fernando Henrique Cardoso. Já no primeiro governo Lula foi criada a Secretaria Especial de Política da Mulher, com status de ministério, e recriado o Conselho, com características próximas do que havia sido originalmente. Ainda é mister apontar para as duas Conferências Nacionais para a Política da Mulher ocorridas em 2005 e 2007, que mobilizaram mais de 3 mil mulheres e produziram alentados documentos de análise da situação da mulher no Brasil.

Com o advento das redes sociais, reunindo interesses comuns, vemos o feminismo brasileiro ganhar ainda mais fôlego. Há muito trabalho pela frente.

Fonte: PINTO, Célia Regina Jardim. Feminismo, história e poder.

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