quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Democracia século 21: haverá vida além da comunicação viral?

Observando o entusiasmo como certos intelectuais de esquerda têm em conta as mobilizações sociais dos dias correntes aqui no Brasil, parece até que sou um poço de ceticismo – logo eu, que sempre fui considerada otimista demais. Não é que eu seja contra as manifestações de rua, muito pelo contrário, acho que elas elevam a temperatura da política, tornam visíveis e populares o debate de ideias e o confronto entre visões de mundo, o que provoca reflexão e, consequentemente, estimula o desenvolvimento/amadurecimento/conscientização de cada envolvido (passiva ou ativamente).

O grande problema, a meu ver, é a ilusão de acreditar que essas manifestações seriam expressão de quem está acordado ou pelo menos acordando frente às questões políticas, em demonstração de radicalização da democracia: deixa-se, desse modo, de dar o devido valor à qualidade da formação de opinião subjacente a essas manifestações, o que me parece grave. 

É claro que esses movimentos atuais são muito mais reflexos da comunicação viral do que de uma formação mais consistente de pensamento. Questiono: esse tipo de comunicação, viral, típica das redes sociais, é base capaz de sustentar a democracia que queremos? Teremos um verdadeiro governo do povo graças a essa espécie de difusão massificada de ideias em mensagens-pílulas, que formam opinião no estilo fast food geralmente acompanhadas de forte apelo emocional?

Francamente, o que pode transformar a estrutura do sistema político-econômico de uma sociedade é a efetiva conscientização política dos cidadãos, o esclarecimento responsável e bem fundamentado movido por virtudes cívicas. Sem o ingrediente básico da consciência, é insuficiente a aparência de engajamento em prol da democracia, por mais justas que sejam as preocupações pontuais expostas. Nesse sentido, não acho nada radical o quebra-quebra de vidraças, a ocupação e nem mesmo a eventual substituição de um governador. Acho superficial. A agitação é positiva? Sim. Mas não é para tanto deslumbramento. Se o objetivo da política é a liberdade, a visibilização da participação política não garante a qualidade da democracia. Pode ser que o grande desafio democrático do século 21 seja transformar o pontapé inicial da capacidade de mobilização através das novas ferramentas tecnológicas em ação perene de aprofundamento da conscientização política em massa. Insistir na fé na comunicação viral é como lançar sementes ao asfalto, ignorando que só em solo fértil elas poderão germinar.

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