terça-feira, 20 de agosto de 2013

Queer é o poder

"A menos que o sexo desapareça, a união, o não-dual (Brahma) não acontece." (Osho)

Vem o movimento queer e afirma que ser homossexual já está capturado na heteronormatividade. Homossexual, bissexual, lésbica ou gay, isso por si só não é suficiente. É preciso escapar da divisão binária homem/mulher ou hetero-homo. Desistir de pretender definir-se pela negação do outro, pela imagem que o outro faz do que você (não) é. Porque isso já é definir-se por meio do normal, na medida de sua exclusão. Por isso, LGBT é muito pouco. Nem todas as letras do alfabeto poderiam cobrir a sexualidade humana. Ela é polimorficamente perversa e a culpa não tem vigência. O queer não quer se casar e adotar filhos pra ter uma família aburguesada e banal. Ele realmente não vai criar os filhos como um casal heterossexual normal e essa é a sua maior qualidade! Recusa a própria ideia de uma normalidade, de uma saúde mental, e também não cai no papai-mamãe-filhinho da psicanálise freudiana.
 
A sensibilidade queer está bem representada no pós-estruturalismo linguístico, na antropologia diferencial, na desconstrução, em Deleuze e Lacan. Está na vanguarda de uma luta que politiza o desejo. Sua ontologia da diferença incide imediatamente em movimentos feministas, nas lutas raciais, na questão dos imigrantes e da Palestina. Transcende as etiquetas e expectativas, implica uma microfísica do poder, desestabiliza as narrativas bonitinhas do governo, da psiquiatria, da própria esquerda. Mas não quer se fazer invisível, como se não existissem alegres em sua gaia ciência. E sim saturar as relações de múltiplas formas de vida, por uma maneira menos ordinária de viver a liberdade. É tornar visível e principalmente vivenciável o universo de amor, desejo e prazer que constitui o ser humano nas suas várias camadas. Uma política queer pode realmente perturbar o sistema político-econômico dominante, de encontro à mercantilização de segmentos sociais, sua imagem publicitária e seu desejo pré-fabricado. O queer é revolucionário.
 
 
(Por Bruno Cava. “Queerpunk: além do movimento gay”, Blog Amálgama, 20/10/2011).

Um comentário:

  1. ya, isso é maravilhoso!

    vou achar um artigo que li sobre formação de gênero na sociedade.

    Be Queer

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