segunda-feira, 29 de julho de 2013

Marcha das vadias RJ 2013


A Marcha das Vadias do Rio 2013 aconteceu no último sábado, dia 27 de julho, e, como das outras duas vezes (2011 e 2012), marquei presença lá. Como sempre muito organizada, seu agendamento foi realizado com a devida antecedência e a polícia avisada seis meses antes de que ocorreria a partir das 13h em frente ao posto 5, na praia de Copacabana. Nesse dia, era para a Jornada Mundial da Juventude católica estar acontecendo bem longe, lá em Guaratiba. Mas, com as fortes chuvas dos últimos dias, o lugar (onde 300 árvores foram arrancadas só para receber o papa) ficou enlamaçado e o palco da festa religiosa acabou se mudando justamente para a mesma praia da manifestação feminista.

Diante desse inconveniente, a organização da Marcha resolveu seguir no sentido Ipanema e, como sempre, arrasou, reuniu muita gente, foi puro sucesso. Logo no início, duas pessoas realizaram uma espécie de ritual que consistia em danificar imagens de santa e crucifixos, no avesso da postura do público do evento da outra ponta da praia. Esse simples detalhe foi o grande destaque da mídia, claro, e passou a dar margem para críticas ao protesto. Confesso que todo esse auê em torno da questão me dá preguicinha, mas, já que toquei no assunto, vou direto me reportar ao post "Ui, quebraram a santa", da Revista Wireshoes:

"Enfrentar os símbolos da santa Igreja é uma forma de dizer não, ela não detém a verdade. Não, eu não acredito nela. Sim, eu posso dar de ombros pros ensinamentos que ela propõe.
Mas eu fico triste demais quando alguém zomba da minha fé. Mas eu choro quando alguém questiona os meus dogmas. É a senha do relativismo individual para que todos nós recuemos. Eu não recuo. E não quero deixar VOCÊ triste. Não sei como pode ser tão difícil perceber que a crítica está direcionada para a instituição Igreja. Claro que eu já sei também que vivemos o tempo da emoção e do afeto. E que a racionalidade, talvez por suas próprias limitações, tenha sido abandonada na elaboração de argumentos. A nebulosa afetual que nos fala Maffesoli. Acho que todos já percebemos que estamos diante desse novo tempo. E que toda e qualquer crítica é lida como uma desrespeito à pessoa. No episódio da santa, foi dito que os 3 milhões de fiéis ali foram agredidos. Por dois militantes nonsense de uma Marcha horizontal e livre.
O que eu vejo é que nenhuma ação anticlerical é possível. Tudo que eu fizer é uma agressão individual. Caso de polícia. Quebrei uma santa. Nossa. Violei a liberdade religiosa e impedi o culto. O que me resta é ver o Papa passar. Minha proposta (sim, eu tenho uma proposta, a loka etc) é que enfrentemos. Vamos voltar a dizer que as religiões cristãs se erguem sobre uma cultura do ódio. Que historicamente eles tem impedido as pessoas de existirem. Impediram negros, índios, mulheres, gays, muçulmanos. Que eles nunca abandonaram a guerra santa. Que ~respeitar~ o discurso deles é legitimar o ódio. 
Que a Virgem Maria não é uma imagem feminina. É uma das imagens mais machistas já criadas pela cultura humana. Que não existem mulheres na Igreja deles. Elas lavam os pés e puxam o saco de homens. Que Simone de Beauvoir já dissecou A Religiosa (ou A Mística) no segundo volume de O Segundo Sexo. A liberdade mistificada da mulher, promovida pelas religiões, bem como a aniquilação da carne da mulher religiosa. Estranhamente, as feministas que apoiaram os manifestantes também fazem ressalvas individualista. “Eu não faria isso“, “eu respeito quem não respeita mas não faria“. Um espiral de justificativa que para mim é o cerne da questão: ´para combater criacionismo, cartilha bioética papal e que tais PRECISAMOS enfrentar as religiões. Ué. Não teve outro jeito. Até chegarmos nessa sinuca teórica. Se-eu-critico-não-respeito. É uma falsa sinuca. O relativismo é um método de compreensão. Não é a aceitação de todas as práticas e discursos. Podemos sair do armário. Podemos dizer que falta senso crítico àqueles que sacralizam um homem segundos depois da fumaça vaticana. O preço que estamos pagando por não enfrentar é alto demais. Cada vez mais vemos pastores e padres invadindo o Estado. Cada vez mais abaixamos a cabeça e dizemos “ó, mas eles tem o direito de estar“. Como se não soubessemos o que eles fazem quando tem o Estado nas mãos. Ao invés de ficarmos dizendo sem parar que não quebraríamos santa, está na hora de dizer que cagamos e andamos se uma santa foi quebrada."
De fato, não me choca nada o gesto daqueles dois que quebraram os objetos religiosos. Acho tragicômico julgarem a cena como um tributo à intolerância sem perceber que a maior violência é a perpetrada pelas igrejas contra seres humanos de carne e osso, e não contra objetos. Ah, já estou cheia dessa gente que não se acha violenta, acreditando que violência é só agressão física. Antes de condenarem a reação, deveriam enxergar de quem partiu a ação originária, assumir a "culpa" e tentar aplicar o que diria Francisco: compreender antes de maldizer.

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