O enfrentamento
do problema da comunicação de massa é fundamental para a emancipação dos povos.
Para mim, trata-se da questão mais importante a ser resolvida pelas democracias
atualmente, razão pela qual considero indispensável sua abordagem aqui neste
blog.
Ninguém duvida
que a comunicação social foi apropriada pelos regimes totalitários do século
20, quando os meios de comunicação serviram de aparelhos ideológicos de estado.
No entanto, a intensificação da associação de ideias entre liberdade,
democracia e capitalismo a partir do final dos anos 1980 tem produzido uma
cegueira que se estende até os círculos acadêmicos, de modo que as teorias
democráticas contemporâneas não têm dedicado ou dedicam pouquíssima atenção ao
papel central exercido pela mídia nas sociedades reais do século 21 – sociedades de massa, globalizadas e cindidas
por classes sociais[1].
O que quero
dizer é que se outrora a preocupação da tutela dos direitos individuais, como a
liberdade de expressão, incidia sobre a ação estatal, impondo-lhe postura
negativa (de não fazer, isto é, de não invadir a esfera privada), agora são as
grandes empresas que tomaram esse lugar que era atribuído ao Estado. São elas
que ameaçam a liberdade de expressão e que invadem a esfera privada. E, desse
modo, acaba que todos ficam sob o controle do grande capital, inclusive o
Estado, que é alimentado principalmente pela tributação oriunda das grandes
corporações empresariais privadas. Se esta é a ordem inerente ao sistema
capitalista, é, na verdade, exatamente diante dela que as liberdades
individuais devem se afirmar, e não propriamente ou com direcionamento especialmente
enfático em relação ao Estado, que, mais do que nunca, não passa de uma
instância modelada e instrumentalizada pelo capital econômico.
Nesse novo
tipo de totalitarismo, a reprodução e disseminação ideológica se operam em uma
triste idiotização[2]
geral da população, atuando em várias frentes: mídia impressa, rádio, televisão
etc. Trata-se de um reino onde campeia impune o culto à personalidade dos
medíocres, da publicidade degenerada indutora de comportamentos servis, da
conspiração sistemática contra a memória, a dignidade, a cultura, a ciência e,
sobretudo, contra a liberdade para o desenvolvimento humano baseado no
pensamento livre de manipulações e conduções sistemáticas de ideias em um mesmo
sentido ideológico.
A imprensa
brasileira mente, é claro, mas manipula ainda que não minta. As teorias do gatekeeper e da parede e da lanterna tratam da manipulação, mesmo que apenas se
fale a verdade. Na teoria do gatekeeper, a mídia funciona como um porteiro que
diz: “esta verdade deixa passar, esta também, esta não, é perigosa, fica quietinha
aí”. Já a teoria da parede e da lanterna funciona da seguinte maneira: imagine
que toda a verdade do universo é ou está num grande muro à sua frente, mas ele está
no escuro[3].
Você não é capaz de descrever como é todo o muro, apenas a parte que lhe mostram.
O escuro representa a ignorância total, ninguém sequer vê o muro, você pode caminhar até rebentar o nariz nele e não saberá o que te atingiu. Então a mídia é iluminadora, a mídia é uma lanterna que esclarece com sua luz. O problema é que toda lanterna tem um foco, que é a área onde a luz vai atingir. Não se pode iluminar todo o muro, apenas uma parte. E a malandragem está em decidir qual parte do muro quer ser mostrada. No caso do gatekeeper, qual verdade o porteiro vai deixar entrar.
Portanto, não é preciso haver mentira para haver um mito. De fato, a maioria dos mitos não são feitos na base da mentira e sim da omissão dos fatos e da pauta que a grande mídia dá pra este ou aquele assunto. A televisão? Ah, esta, então, com certeza te conduz feito um boi para lá e para cá (leia Sobre a Televisão, de Pierre Bourdieu).
Como não ser massa
de manobra, como não ser mais um seduzido e cooptado pelo discurso midiático?
Sendo crítico, isto é, formando um pensamento crítico. A crítica é a nossa arma e o
dinheiro não a compra: o esforço pessoal é imprescindível, cada um precisa correr
atrás de sua própria lucidez, uma lucidez que ninguém, além de você mesmo, pode
lhe usurpar. Este blog não deixa de tentar contribuir para isso, pois acredito
que quanto mais inspirações à construção do pensamento crítico pudermos espalhar pela internet, mais
chances temos de promovê-lo para desencantar o mundo do sonambulismo que o tem movido.
Excelente!
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