Sobre formação de opinião pública,
efeito manada e o tal sonambulismo que move o mundo, considero
importantíssimo entender um pouco sobre isto: em meados dos anos 70, uma pesquisa
identificou que, quando tomamos decisões, muitas vezes usamos heurísticas (numa
definição simples, atalhos mentais). O problema é que as heurísticas são
traiçoeiras. Úteis em muitos casos, tais atalhos, em certas circunstâncias, nos
levam a erros (no jargão da área, elas produzem vieses cognitivos). Kahneman e
Tversky, em estudo seminal, identificaram três heurísticas e seus respectivos
vieses: a heurística da disponibilidade, a heurística da
representatividade e o efeito de ancoragem. A heurística da
representatividade faz com que nos desviemos da estatística em prol de
associações de ideias fundadas em estereótipos. O efeito de ancoragem sugere
que o ser humano tende a escolher respostas que sejam próximas a valores ou
informações sugeridos pela pergunta – ainda quando tais valores não tenham
absolutamente nada a ver com a resposta. Finalmente, a que queremos destacar
aqui: a HEURÍSTICA DA DISPONIBILIDADE: associada à saliência de certos eventos
na memória coletiva, tal heurística afirma que as pessoas concluem a respeito
da probabilidade de determinado evento com base na facilidade com que
ocorrências dele podem ser lembradas. É por isso que, em geral, preocupa-se mais
com furacões logo após ter-se passado por um; e é por isso que riscos mais
recentes ou mais espetaculares são mais combatidos do que riscos mais triviais
ou mais distantes no tempo.
Estudos clássicos explicam a
estrutura cognitiva que gera tais desvios usando um modelo bipolar. É como se existissem 2 sistemas de
pensamento dentro de nós: um responsável pela intuição e por processos mentais
automáticos; outro, responsável por processos conscientes, racionais,
deliberados. Cabe ao sistema automático a maioria das tarefas cotidianas. Sua
domesticação, pelo sistema consciente, leva tempo e requer esforço. As
interações entre os dois sistemas é que geram os vieses. A conclusão dessas
pesquisas sugere modéstia quando às nossas capacidades como agentes racionais.
Aí é que entra o conceito de nudge, prática que levaria o poder público a arquitetar escolhas quando as pessoas estão diante de situações nas quais há alta probabilidade de que façam escolhas ruins. Diante desse pano de fundo de escolhas equivocadas, agentes enviesados e inevitabilidade, os autores Thaler e Sustein propõem o uso do nudge como paternalismo libertário. Há nela algo de paternalista, pois a arquitetura de escolhas visa, sim, induzir comportamentos. Mas também seria libertária, pois a possibilidade de escolhas estaria sempre presente. Não seria um paternalismo puro. O nudge como instrumento de política pública ainda é relativa novidade no Brasil.
Aí é que entra o conceito de nudge, prática que levaria o poder público a arquitetar escolhas quando as pessoas estão diante de situações nas quais há alta probabilidade de que façam escolhas ruins. Diante desse pano de fundo de escolhas equivocadas, agentes enviesados e inevitabilidade, os autores Thaler e Sustein propõem o uso do nudge como paternalismo libertário. Há nela algo de paternalista, pois a arquitetura de escolhas visa, sim, induzir comportamentos. Mas também seria libertária, pois a possibilidade de escolhas estaria sempre presente. Não seria um paternalismo puro. O nudge como instrumento de política pública ainda é relativa novidade no Brasil.
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Baseado no artigo "Heurísticas: Yes, a opinião pública também é irracional!", de José Vicente Santos de Mendonça na Revista Insight Inteligência, nº 60.
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