terça-feira, 4 de junho de 2013

O sonambulismo que move o mundo

"As pessoas sentem minha escrita como uma agressão; elas sentem que existe nela alguma coisa que as condena à morte; eu não as condeno à morte, simplesmente suponho que já estejam mortas". Michel Foucault

“Caímos” neste mundo sem saber ou ter ferramentas de intelecção seguras o suficiente para viabilizar a construção de respostas minimamente gerais e objetivas às questões mais básicas para nos entendermos, questões existenciais como: quem somos? O que acontece após a morte? ou somos mero fruto do acaso?
 
Diante do enorme mistério em que nos inserimos, estamos sujeitos a mergulhar em um vazio angustiante. A consequência natural é buscar um preenchimento, isto é, um sentido para nossas vidas que nos conduza por inércia. Geralmente, recorre-se à religião, mas há quem se abrigue também na fé na ciência, em ideologias, em lideranças ou simplesmente na reprodução de comportamentos e convenções tradicionais. No entanto, tudo isso se estabelece como um complexo jogo de hipnose, uma autossabotagem humana contra sua própria emancipação e, desse modo, um mundo de ilusões vai se forjando e se impondo à revelia de um senso equilibrado conforme o bem estar humano, com consciência, vida real. Práticas absurdas vão se naturalizando na mesma medida em que um bizarro sistema de crenças é passivamente acatado e difundido em escala global.
 
Embora nada disso seja novidade (parece mesmo uma tecla gasta de tão batida), a humanidade não vira o jogo para se tornar senhora de seu próprio destino e o mundo permanece se movendo em sonambulismo. É notório que a maioria das pessoas sequer tem acesso à educação, capaz de proporcionar condições para o desenvolvimento de um pensamento crítico, que é fundamental para uma tomada de rédeas de verdade. O foco do problema, portanto, está exatamente naqueles que, não obstante tenham um grau de instrução no mínimo razoável, ainda assim permanecem “embriagados” no meio do chiqueiro e da violência constante. Não acordam desse sono profundo que os torna alienados, hipócritas ou inconscientes, presos a um mundo de faz-de-conta assentado em fantasias que compõem aquilo que se chama doxa. Com efeito, conhecimento não se confunde com sabedoria, mas poderia ser mais usado como instrumento de reflexões voltadas à conquista desta.
 
Depois de dançarmos um pouco deste kitsch autoajuda, no próximo post me proponho a examinar duas desculpas invocadas para justificar a conservação do estado em que o mundo se encontra: (i)não há alternativa melhor ao sistema capitalista e (ii) a felicidade é alcançada individualmente. A ver.

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