"As
pessoas sentem minha escrita como uma agressão; elas sentem que existe nela
alguma coisa que as condena à morte; eu não as condeno à morte, simplesmente
suponho que já estejam mortas". Michel Foucault
“Caímos” neste mundo sem saber ou ter ferramentas de intelecção seguras o suficiente para viabilizar a construção de respostas minimamente gerais e objetivas às questões mais básicas para nos entendermos, questões existenciais como: quem somos? O que acontece após a morte? ou somos mero fruto do acaso?
“Caímos” neste mundo sem saber ou ter ferramentas de intelecção seguras o suficiente para viabilizar a construção de respostas minimamente gerais e objetivas às questões mais básicas para nos entendermos, questões existenciais como: quem somos? O que acontece após a morte? ou somos mero fruto do acaso?
Diante do enorme mistério em que nos
inserimos, estamos sujeitos a mergulhar em um vazio angustiante. A consequência
natural é buscar um preenchimento, isto é, um sentido para nossas vidas que nos
conduza por inércia. Geralmente, recorre-se à religião, mas há quem se abrigue
também na fé na ciência, em ideologias, em lideranças ou simplesmente na
reprodução de comportamentos e convenções tradicionais. No entanto, tudo isso
se estabelece como um complexo jogo de hipnose, uma autossabotagem humana
contra sua própria emancipação e, desse modo, um mundo de ilusões vai se forjando
e se impondo à revelia de um senso equilibrado conforme o bem estar humano, com
consciência, vida real. Práticas
absurdas vão se naturalizando na mesma medida em que um bizarro sistema de
crenças é passivamente acatado e difundido em escala global.
Embora nada disso seja novidade (parece
mesmo uma tecla gasta de tão batida), a humanidade não vira o jogo para se
tornar senhora de seu próprio destino e o mundo permanece se movendo em
sonambulismo. É notório que a maioria das pessoas sequer tem acesso à educação,
capaz de proporcionar condições para o desenvolvimento de um pensamento crítico,
que é fundamental para uma tomada de rédeas de verdade. O foco do problema,
portanto, está exatamente naqueles que, não obstante tenham um grau de
instrução no mínimo razoável, ainda assim permanecem “embriagados” no meio do
chiqueiro e da violência constante. Não acordam desse sono profundo que os
torna alienados, hipócritas ou inconscientes, presos a um mundo de faz-de-conta
assentado em fantasias que compõem aquilo que se chama doxa. Com efeito, conhecimento não se confunde com sabedoria, mas poderia
ser mais usado como instrumento de reflexões voltadas à conquista desta.
Depois de dançarmos um pouco
deste kitsch autoajuda, no próximo post
me proponho a examinar duas desculpas invocadas para justificar a conservação
do estado em que o mundo se encontra: (i)não há alternativa melhor ao sistema
capitalista e (ii) a felicidade é alcançada individualmente. A ver.
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