segunda-feira, 10 de junho de 2013

Chega de blábláblá e viva o realismo: política é sobre interesses e poder

Carregando 21 séculos nas costas, marcados pelo advento da mensagem de Jesus, que desencadeou toda sorte de manifestações de esperança na humanidade, cá permanecemos neste mar de insanidades. Melhoras muito lentamente aconteceram, sim, mas paralelas a outras tantas pioras. Para quem se sente absolutamente satisfeito em uma vida confortável, prazerosa e bem-sucedida, parabéns: você é um individualista alienado, omisso, que não olha ao redor e muito menos se coloca no lugar do outro para praticar seu catecismo. Se há uma contrapartida a essa sua “felicidade”, não posso responder com quase nenhum argumento que não caia em meus esoterismos, exceto por alguns resultados científicos esparsos, como a comprovação de que a prática da solidariedade evita várias doenças. No mais, enquanto se alimenta a crença de que a ciência deve servir ao nosso “progresso” (e sabe-se bem o que isto quer dizer), seria muita pretensão minha querer apresentar dados científicos sobre questões mais existenciais.
 
Não é novidade que crenças fabricadas pela ideologia fazem a cabeça do senso comum e que isso é desejável pelos donos do poder político. Em não sendo novidade, por que tanta gente, inclusive com diploma universitário e título de doutor no currículo, não procura formar um próprio pensamento crítico real? Aparecem “N” inconsoláveis respostas. Ocorre que é extremamente cansativo e nauseante ver e ser cúmplice de gente falando tanta babaquice como ventríloquo de quem está no poder ou, pior, gente egoísta que prefere se alhear. Dói admitir, mas a verdade é que todo mundo é racional o suficiente para escolher entre pelo menos desejar estar dentro ou fora da caixinha, e, sempre havendo esse livre arbítrio, conclui-se: a maioria não é essencialmente tapada, a maioria simplesmente escolhe ser babaca, não se interessando realmente em buscar um mundo melhor.
 
Então, o que nós, os inconformados, que não compactuamos com essa hipocrisia toda, podemos fazer?
 
Acho que a contribuição do pensamento político para a conquista de uma prática política emancipatória pode começar por aqui: chega de apostar na deliberação! Sejamos realistas o bastante para encarar que o funcionamento da política, como já nos dizia Maquiavel, envolve embates por poder, o que não implica que os agentes políticos sejam necessariamente “maus”, segundo a moralidade convencional, ou insensíveis às preocupações e ao bem-estar de outros. Indica, apenas, que o poder é o recurso necessário para a realização de qualquer objetivo político, até mesmo para a efetivação de alguma determinada concepção de justiça.

É preciso esquecer a percepção ilusória da política segundo a qual a multiplicidade de vozes em deliberação geraria uma visão mais completa da realidade e, assim, uma decisão cognitivamente superior. O conflito político, mais do que desejável e tolerável, é NECESSÁRIO em uma democracia. Enquanto houver gente que precise ser cobrada ou controlada pelos auspícios de normas jurídicas, não há equilíbrio espontâneo possível. O conflito é a realidade, e a busca de uma democracia isenta do conflito político nega seu próprio caráter democrático.

Como no verso da canção Bom conselho, de Chico Buarque, quem espera nunca alcança. Chega de paciência, chega de blábláblá, chega de acreditar no mito de que podemos resolver nossos problemas entubando conflitos latentes.

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