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21 séculos nas costas, marcados pelo advento da mensagem de Jesus, que desencadeou
toda sorte de manifestações de esperança na humanidade, cá permanecemos neste mar de insanidades. Melhoras muito lentamente aconteceram, sim, mas paralelas a
outras tantas pioras. Para quem se sente absolutamente satisfeito em uma vida
confortável, prazerosa e bem-sucedida, parabéns: você é um individualista alienado,
omisso, que não olha ao redor e muito menos se coloca no lugar do outro para praticar
seu catecismo. Se há uma contrapartida a essa sua “felicidade”, não posso
responder com quase nenhum argumento que não caia em meus esoterismos, exceto por
alguns resultados científicos esparsos, como a comprovação de que a prática da solidariedade
evita várias doenças. No mais, enquanto se alimenta a crença de que a ciência
deve servir ao nosso “progresso” (e sabe-se bem o que isto quer dizer), seria
muita pretensão minha querer apresentar dados científicos sobre questões mais
existenciais.
Não
é novidade que crenças fabricadas pela ideologia fazem a cabeça do senso comum
e que isso é desejável pelos donos do poder político. Em não sendo novidade,
por que tanta gente, inclusive com diploma universitário e título de doutor no
currículo, não procura formar um próprio pensamento crítico real? Aparecem “N” inconsoláveis
respostas. Ocorre que é extremamente cansativo e nauseante ver e ser cúmplice
de gente falando tanta babaquice como ventríloquo de quem está no poder ou,
pior, gente egoísta que prefere se alhear. Dói admitir, mas a verdade é que todo
mundo é racional o suficiente para escolher entre pelo menos desejar estar dentro
ou fora da caixinha, e, sempre havendo esse livre arbítrio, conclui-se: a
maioria não é essencialmente tapada, a maioria simplesmente escolhe ser babaca,
não se interessando realmente em buscar um mundo melhor.
Então, o que nós, os inconformados, que
não compactuamos com essa hipocrisia toda, podemos fazer?
Acho que a contribuição do
pensamento político para a conquista de uma prática política emancipatória pode
começar por aqui: chega de apostar na deliberação! Sejamos realistas o bastante
para encarar que o funcionamento da política, como já nos dizia Maquiavel,
envolve embates por poder, o que não implica que os agentes políticos sejam
necessariamente “maus”, segundo a moralidade convencional, ou insensíveis às
preocupações e ao bem-estar de outros. Indica, apenas, que o poder é o recurso
necessário para a realização de qualquer objetivo político, até mesmo para a
efetivação de alguma determinada concepção de justiça.
É preciso esquecer a percepção ilusória da política segundo a qual a multiplicidade de vozes em deliberação geraria uma visão mais completa da realidade e, assim, uma decisão cognitivamente superior. O conflito político, mais do que desejável e tolerável, é NECESSÁRIO em uma democracia. Enquanto houver gente que precise ser cobrada ou controlada pelos auspícios de normas jurídicas, não há equilíbrio espontâneo possível. O conflito é a realidade, e a busca de uma democracia isenta do conflito político nega seu próprio caráter democrático.
Como no verso da canção Bom conselho, de Chico Buarque, quem espera nunca alcança. Chega de paciência, chega de blábláblá, chega de acreditar no mito de que podemos resolver nossos problemas entubando conflitos latentes.
É preciso esquecer a percepção ilusória da política segundo a qual a multiplicidade de vozes em deliberação geraria uma visão mais completa da realidade e, assim, uma decisão cognitivamente superior. O conflito político, mais do que desejável e tolerável, é NECESSÁRIO em uma democracia. Enquanto houver gente que precise ser cobrada ou controlada pelos auspícios de normas jurídicas, não há equilíbrio espontâneo possível. O conflito é a realidade, e a busca de uma democracia isenta do conflito político nega seu próprio caráter democrático.
Como no verso da canção Bom conselho, de Chico Buarque, quem espera nunca alcança. Chega de paciência, chega de blábláblá, chega de acreditar no mito de que podemos resolver nossos problemas entubando conflitos latentes.
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