sábado, 22 de junho de 2013

O führer tupiniquim nosso de cada dia

Nos últimos dias, com o tema do totalitarismo vindo à tona, imagens de um líder carismático manipulando uma enorme massa popular em defesa de ideias ignóbeis em nome de uma suposta moralidade da nação foram relembradas como repetição de um filme já visto. Talvez sob essa influência, hoje pela manhã resolvi enfrentar cenas de terror nos mesmos moldes, só que diretamente da vida real brasileira, ao sintonizar minha televisão em um canal aberto que transmitia um ato comandado por um pastor de igreja evangélica, o Silas Malafaia.

Diante de um mar de gente, de religiosa aquela sessão só tinha a "fachada", pois, na verdade, tratava-se de um comício. As palavras do escandaloso pastor eram de ódio contra tudo o que fosse progressista – ou, segundo ele, "esquerdopata". Aos gritos, igualzinho a Hitler, pregava diante de milhares de zumbis que levantavam os braços e repetiam em coro uníssono: "líder, líder, líder, líder...". Não, não estou inventando. Aconteceu em 15 de junho de 2013. Acontece todos os dias.

À medida que eu permanecia firme aguentando assistir àquele show de horror, o caráter agressivo do discurso do pastor me inoculava violência, uma intensa energia negativa que acabou prejudicando as próximas horas do meu dia, enquanto não saía da minha cabeça a imagem do protótipo de führer tupiniquim destilando todo o seu veneno verbal hipnotizante sobre a plateia contra a felicidade de seres humanos, sejam eles homossexuais, mulheres, negros ou qualquer um, já que ele também abordou várias questões que se refletem na vida de toda a população, atacando até a necessidade de regulamentação dos artigos constitucionais sobre o setor da comunicação social no Brasil – questão que defendo com unhas e dentes e que considero a mais importante a ser resolvida para o bem da democracia brasileira, como expus aqui. É lógico que o marco regulatório das comunicações – que existe em praticamente todos os países democráticos do mundo, entre os quais os Estados Unidos – não interessa a um führer, pois ele quer continuar enriquecendo através da manipulação de um gigantesco contingente de pessoas em um país de dimensões continentais, o que é extremamente facilitado pela divulgação de suas pregações por todos os dias da semana em quase todos os canais abertos da televisão. Entretanto, o que o pastor não diz é que a prestação do serviço de transmissão de produtos audiovisuais só é permitida mediante concessões públicas (está na Constituição) e, sendo o Estado laico, é inaceitável a veiculação desse tipo de conteúdo. Ela só acontece porque sobrevive uma bizarra interpretação jurídica de que, enquanto o direito à comunicação social não é regulamentado, não se poderia inibir a liberdade de a televisão mostrar o que lhe convém, isto é, o que mais lhe enche os bolsos independentemente do lixo exibido. 

Se a Constituição for regulamentada nesse tocante, adeus, igrejas: fiquem em paz e que o senhor vos acompanhe, mas a exibição na TV aberta das pregações religiosas não será mais tolerada definitivamente, abrindo-se espaço para os conteúdos constitucional e democraticamente previstos, que são artísticos, culturais e educativos. E, acima de tudo, abriria espaço para mais liberdade, mais paz e muito mais amor.


OBS.: coerentemente, o pastor também fez campanha contra a aprovação da PEC 37. Claro: a montagem de um cenário propício à concretização de um golpe branco pelo Poder Judiciário contra um governo de esquerda democraticamente eleito parece interessantíssima aos setores conservadores.

Um comentário:

  1. Eu comecei a rir muito no inicio do texto, pq quando estou entediada fico passeando por esses canais bizarros da TV aberta, e os mais bizarros são sempre esses ai, as vezes vejo graça de tanta de desgraça, as vezes me deprime, mas "líder, líder, líder", uow, isso é surreal.Agora, deixa de ser maluca, esse tipo de coisa não se faz pela manhã, não se arrisque tanto menina.

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